segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Uni[Verso]

Mônadas Alvíssimas
Lentamente pulsam
Vidas movediças
Nas tramas que se edificam

Em um silêncio marrom
Algo quente que borbulha
Na primeira instância do som
Simétrico triz de fagulha

Já são dois na imensidão
É um estranhamento
A primeira visão
Estremecimento

O primórdio:
Da Dor
Do Som
Da Cor e Ódio

O Amor é tardio
Tem luxo e abundância
É vencimento lascivo
Tudo ainda vem de longa distância

No infinito que é sonho
Deu-se música
Deu-se beleza
Reflexivamente escoa e ecoa

Em todas ondas roxas
Nas faixas sonoras escuras
Todos lamentos e sorrisos
Ascendem e descendem mundos
(José Humberto Ribeiro)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mosaico Abstrato 2 (Nando Reis)... espetacular!!


Todo sonho é feito de estilhaços
Do que o olho crê
Que a imagem
Faz no espaço,
E o tempo encontra
No ar que passa
Invisível,
Peso e cor

Todo encontro é o jeito do acaso
Achar no sonho
Uma miragem
Onde o oásis
Água inventa
O mar do nada é
Impossível
Erro e dor

E o que estava longe está aqui
dentro e tão perto
De um jeito tão certo que só cabe mesmo em mim
Beijo e abraço
No tempo que passa
Lento e à jato

No gesto que toca
A gente na alma
No modo, dois jeitos
Mas diferentes
É que somos
Iguais

Livros lidos
Discos preferidos
Filmes vistos
Sempre
Um Sinal

Indo e vindo
vivo ouvindo
O instinto
Mesmo quando
Eu não entendo nada
Eu não entendo nada
E eu não entendo nada
Só o que diz
O lábio no beijo
No sopro
A paixão

domingo, 26 de julho de 2009

Revelação

Inspiro
Uma
Luz:
Desce,
Acende e ascende,
Ilumina,
Aquece
Queima
O negativo
Revela
Meu mistério
Para ti...

(J.H.R)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Vontade....


"Este mundo: uma imensidade de força sem começo e sem fim, uma massa de força compacta como o bronze, que não se torna maior nem menor, que não se consome mas se transforma, um todo de uma grandeza invariável, uma economia sem dispêndio nem perda, mas sem ganho nem acréscimo, cercado do "nada" como limite, sem nada que se dissipe ou desapareça, sem nada de infinitamente extenso; força determinada encerrada num espaço determinado, e não num espaço que estaria de alguma forma "vazio", mas força que é em toda parte um jogo de forças e de ondas de forças ao mesmo tempo unas e múltiplas, acumulando-se aqui, diminuindo lá, um oceano de forças desencadeadas contra elas mesmas e flutuantes, eternamente em mudança, eternamente em recuo, com longos anos de retorno, com o fluxo e o refluxo das formas que vão das mais simples às mais complexas, das mais calmas, frias e congeladas, às mais ardentes, mais selvagens e mais contraditórias, voltando depois da profusão à simplicidade, do jogo dos contrastes ao desejo de harmonia, afirmando-se ainda nesta identidade dos percursos e dos anos, consagrando-se ele mesmo como o que deve retornar eternamente, como um devir que não conhece saciedade, nem desgosto, nem lassidão [...] Este mundo é o mundo da vontade de poder e nada mais." (F. Nietzsche)

domingo, 12 de julho de 2009

Para a Amiga Gall

TEU DENTRO, GALL

Um ácido
Protéico
Desliza e amansa
Adrenalinas finas
Agitam e contorcem
O corpo sabe
Peles Avisam
A boca suga
Substâncias descem
Circulam
Luzes acedem
Explodem
Lisura no rosto
Calma
Boca contrai
Sorriso
Lá dentro todos se olham
Prazer, aproveitam
Não há medo
Lá fora, paisagem
Que dentro tem
Paz....


(J.H.R)

Atemporal

Atemporal

Não! Não digas nada
Apenas queira
Não! Não interprete
Sinta apenas

Entre na deriva aqui
Não guio e nem conduzo
Também sou cego
Entendo de bem poucas coisas

Sim! Sinto
Posso isso contigo
No silêncio mais absoluto
Mesmo sendo a morte, me entrego

Já disse! Não duvido
As regras, as formas, meios...
As como diluídas
É aura com aura

Nada para enfeitar
Nada para ouvir
Sem antes, agora ou depois
É um paraíso: a dois...

(J.H.R)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

(Apesar de tudo, quer viver!!!) - Memórias do Subsolo - F. Dostoievski

"Não consegui chegar a nada, nem mesmo tornar-me mau: nem bom nem canalha nem honrado nem herói nem inseto. Agora, vou vivendo os meus dias em meu canto, incitando-me a mim mesmo com o consolo raivoso - que para nada serve - de que um homem inteligente não pode, a sério, tornar-se algo, e de que somente os imbecis o conseguem. Sim, um homem inteligente do século dezenove precisa e está moralmente obrigado a ser uma criatura eminentemente sem caráter; e uma pessoa de caráter, de ação, deve ser sobretudo limitada. Esta é a minha convicção dos meus quarenta anos. Estou agora com quarenta anos; e quarenta anos são, na realidade, a vida toda; de fato, isso constitui a mais avançada velhice. Viver além dos quarenta é indecente, vulgar, imoral! Quem é que vive além dos quarenta? Respondei-me sincera e honestamente. Vou dizer-vos: os imbecis e os canalhas. Vou dizer isto na cara de todos esses anciães respeitáveis e perfumados, de cabelos argênteos! Vou dizê-lo na cara de todo mundo! Tenho direito de falar assim, porque eu mesmo hei de viver até os sessenta! até os setenta! até os oitenta!.... Um momento! Deixai-me tomar fôlego..."

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Primavera


"Finalmente, na segunda-feira de Pascoela, já à noitinha, o nevoeiro dissipou-se, as nuvens diluíram-se em flocos brancos e o bom tempo chegou finalmente. No dia seguinte pela manhã, um sol resplandecente acabou de derreter a fina camada de gelo que se formara durante a noite e o ar morno impregnou-se dos vapores que subiam da terra. A erva velha ganhou imediatamente tons verdes, a erva nova despontou no solo, os rebentos dos viburnos, das groselheiras, das bétulas encheram-se de seiva e sobre os ramos dos vimes, banhados em luz dourada, as abelhas, abandonando os seus quartéis de inverno, zumbiram alegremente. Invisíveis cotovias soltaram o seu canto por cima do veludo dos prados e das choupanas cobertas de gelo, os fradezinhos gemeram nas concavidades e nos pântanos submersos pelas chuvas torrenciais. Os grous e os gansos bravos vararam o céu com os seus guinchos primaveris. As vacas, cujo pelo irregular apresentava, aqui e ali, grandes peladas, mugiram nos pastos. Em volta das ovelhas balantes que começavam a perder o pêlo, os cabritos saltitavam, canhestros. Ao longo dos atalhos úmidos corriam os garotos, que deixavam no chão o desenho dos seus pés nus. Em torno dos tanques ouvia-se a algaraviada das mulheres dos mujiques reparando sebes e arados. A primavera chegara realmente." (Anna Kerenina - Leon Tolstoi)
Foto de Ana Labarrère

sábado, 2 de maio de 2009

Paz


"Quero esta espera contínua como o canto avermelhado da cigarra, pois tudo isso é a morte parada, é a Eternidade de trilhões de anos das estrelas e da Terra, é o cio sem desejo, os cães sem ladrar. É nessa hora que o bem e o mal não existem. É o perdão súbito, nós que nos alimentávamos com gosto secreto da punição. Agora é a indiferença de um perdão. Pois não há mais julgamento. Não é um perdão que tenha vindo depois de um julgamento. É a ausência de juiz e condenado." (Clarice Lispector - Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres)

domingo, 19 de abril de 2009

Dia de Índio







Esta imagem fala muito!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Declaro-me Vivo!


Saboreio cada momento.
Antigamente me preocupava quando os outros falavam mal de mim.
Então fazia o que os outros queriam, e a minha consciência me censurava.
Entretanto, apesar do meu esforço para ser bem educado, alguém sempre me difamava.
Como agradeço a essas pessoas, que me ensinaram que a vida é apenas um cenário!
Desse momento em diante, atrevo-me a ser como sou.
A árvore anciã me ensinou que somos todos iguais.
Sou guerreiro: a minha espada é o amor, o meu escudo é o humor, o meu espaço é a coerência, o meu texto é a liberdade.
Perdoem-me, se a minha felicidade é insuportável, mas não escolhi o bom senso comum.
Prefiro a imaginação dos indios, que tem embutida a inocência.
É possível que tenhamos que ser apenas humanos.
Sem Amor nada tem sentido, sem Amor estamos perdidos, sem Amor corremos de novo o risco de estarmos caminhando de costas para a luz.
Por esta razão é muito importante que apenas o Amor inspire as nossas ações.
Anseio que descubras a mensagem por detrás das palavras; não sou um sábio, sou apenas um ser apaixonado pela vida.
A melhor forma de despertar é deixando de questionar se nossas ações incomodam aqueles que dormem ao nosso lado.
A chegada não importa, o caminho e a meta são a mesma coisa.
Não precisamos correr para algum lugar, apenas dar cada passo com plena consciência.
Quando somos maiores que aquilo que fazemos, nada pode nos desequilibrar.
Porém, quando permitimos que as coisas sejam maiores do que nós, o nosso desequilíbrio está garantido.
É possível que sejamos apenas água fluindo;
o caminho terá que ser feito por nós.
Porém, não permitas que o leito escravize o rio, ou então, em vez de um caminho, terás um cárcere.
Amo a minha loucura que me vacina contra a estupidez.
Amo o amor que me imuniza contra a infelicidade que prolifera, infectando almas e atrofiando corações.
As pessoas estão tão acostumadas com a infelicidade, que a sensação de felicidade lhes parece estranha.
As pessoas estão tão reprimidas, que a ternura espontânea as incomoda, e o amor lhes inspira desconfiança.
A vida é um cântico à beleza, uma chamada à transparência.
Peço-lhes perdão, mas….DECLARO-ME VIVO!

Chamalú
Indio Quechua

domingo, 5 de abril de 2009

Um SIM para a vida!


Arte gráfica: Nancy Ntakeshi

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Memórias.....


Não quero essa minha vida gramatical.
Meu Pretérito mais que Perfeito?
Náusea!
O Imperfeito?
Trágico!
Mais adiante jamais quero me encontrar com o
Futuro do Pretérito.
Doa-se essa vida.
Os sábios deviam categorizar isso como sendo mais um provérbio:
assim também se morre pela boca!


J.H.R

segunda-feira, 30 de março de 2009

Nobody Home (Roger Waters - Pink Floyd)


Eu tenho um pequeno livro preto
Com meus poemas dentro dele
Eu tenho uma bolsa com uma escova de dente
E um pente dentro dela
Quando eu sou um cachorro bonzinho
Ás vezes eles me jogam um osso
Eu tenho fitas elásticas que mantêm meus sapatos amarrados
Tenho aquelas vaidosas mãos azuis.
Tenho treze canais de merda na TV para escolher
Eu tenho luz elétrica
E eu tenho intuição
Eu tenho surpreendentes poderes de observação
E isto é o que eu sei
Quando eu tentar conversar
No telefone com você
Não haverá ninguém em casa
Eu tenho o obrigatório cabelo permanente de Hendrix
E eu tenho as inevitáveis queimaduras de alfinete
Todas debaixo da minha camisa de cetim favorita
Eu tenho mancha de nicotina nos meus dedos
Eu tenho uma colher prateada numa corrente
Eu tenho um grande piano para sustentar meus restos mortais
Eu tenho olhos selvagens
Eu tenho um forte desejo de voar
Mas eu não tenho para onde voar
Ooooh Baby quando eu pegar o telefone
Ainda assim não haverá ninguém em casa
Eu tenho um par de botas Gohills
E eu tenho raízes enfraquecidas.

terça-feira, 24 de março de 2009

Transformando....


Bem, não sei. Quisera saber, mas só senti. Era de uma transformação orgânica. Um tom leve e suave de ópio. Depois aquarela. Agora cinza. Agora pardo. Agora preto. Agora.... olhos abertos. Agora passou. Bem-vinda. Aperta aqui! Faça o caminho de volta e escreva aqui. J.H.R.

sexta-feira, 20 de março de 2009

No Limite da Palavra............


“Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. Que não me entendam pouco-se-me-dá. Nada tenho a perder. Jogo tudo na violência que sempre me povoou, o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei. Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado. Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito. O clímax de minha vida será a morte." - Clarice Lispector

quinta-feira, 12 de março de 2009

Só para quem já caminhou.......


Os teus pés


Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouo levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.


Pablo Neruda

segunda-feira, 9 de março de 2009

Inclua, some e não divida..

A cor das cores chama-se AMOR!!!
Eu amo os negros.
Eu amo os índios.
Eu amo os amarelos.
Eu amo os brancos.
Eu amo os vermelhos.
Eu amos os mestiços.
Eu amo os estrangeiros.
Eu amo todas as cores.
Eu amo os católicos.
Eu amo os espíritas.
Eu amo os budistas.
Eu amo os Muçulmanos.
Eu amo os evangélicos.
Eu amo todos os Deuses....
Eu amo os bichos.
Eu amo os verdes.
Eu amo a Terra.
Eu amo todos os seus habitantes.
O Amor é a cor das cores: é todas as cores!
Abra um sorriso colorido e abrace a todos os seus irmãos.
Tudo o que divide, separa, segrega, humilha é pura ilusão...
Na verdade somos todos irmãos e as fronteiras não existem... simples linhas imaginárias
Então se você quer, você pode!!!
Inclua, some e não divida..

J.H.R

quarta-feira, 4 de março de 2009

Verdade e Saúde

“Eu espero ainda que um médico filósofo, no sentido excepcional do termo - alguém que persiga o problema da saúde geral de um povo, uma época, de uma raça, da humanidade -, tenha futuramente a coragem de levar ao cúmulo a minha suspeita e de arriscar a seguinte afirmação: em todo filosofar, até o momento, a questão não foi absolutamente a ‘verdade’, mas algo diferente, como saúde, futuro, poder, crescimento, vida” (GC, Pr.2). F. Nietzsche

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Homem-Pássaro (Dedicatória da amiga Vania Amadeu)


(Este poema é para meu pai e para meu amigo Beto. Por amarem tanto os pássaros.)


Ele não só voa como os pássaros,
Voa com eles, observa seus passos,
Foi ele quem ensinou o papagaio a falar e a comer na mão,
Foi quem pintou as cores exóticas das penas do pavão,
Ajudou Jão-de-barro a planejar e a construir sua casa,
Ensinou os patos a voarem, a abrirem as asas.
Mostrou a aerodinâmica da "V" formação.
Ele amo os pássaros de coração,
Ele sonha o sonho de Dédalus,
Pega carona com Pégasus,
Pensa que é Santos Dumont,
Sejam cada vez mais longas as asas de sua imaginação...

Vania Amadeu.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Pária e Vales


Nunca fui um burguês do partido.
Nunca chamei ninguém de camarada ou companheiro.
Os clubes? Os grêmios? As associações?
Nas planícies inodoras nunca me deparei com um feromônio reconhecido.
Não achei os rebanhos, as alcatéias, as varas e as colméias.
Sou um pária de mim mesmo. Me restam ainda os vales com ecos, onde posso, em desespero, dar um grito de um pedido que eu nunca soube formular.


J.H.R.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Núpcias - Albert Camus


"Penso agora em flores, sorrisos, desejo de mulher, e compreendo que todo o meu horror de morrer está contido em meu ciúme de vida. Sinto ciúme daqueles que virão e para os quais as flores e o desejo de mulher terão todo o seu sentido de carne e de sangue. Sou invejoso porque amo demais a vida para não ser egoísta... Quero suportar minha lucidez até o fim e contemplar minha morte com toda a exuberância de meu ciúme e de meu horror."

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

(Lou Andreas-Salomé para Nietzsche)






Oração à Vida
Tão certo quanto o amigo ama o amigo,
Também te amo, vida-enigma
Mesmo que em ti tenha exultado ou chorado,
mesmo que me tenhas dado prazer ou dor.

Eu te amo junto com teus pesares,
E mesmo que me devas destruir,
Desprender-me-ei de teus braços
Como o amigo se desprende do peito amigo.


Com toda força te abraço!
Deixa tuas chamas me inflamarem,
Deixa-me ainda no ardor da luta
Sondar mais fundo teu enigma.


Ser! Pensar milênios!
Fecha-me em teus braços:
Se já não tens felicidade a me dar
Vamos, ainda tens tua dor.

O Tigre de Veludo



Curto meu corpo quando junto ao teu
corpo. Isso sim é algo de novo,
músculos melhores, mais nervos,
curto teu corpo, curto o que ele faz,
curto teus cosmos, e sentir a espinha,
curto teu corpo até o osso, tremida-
firme-lisa mente e que eu
de novo de novo e de novo
beijarei. Curto beijar teu aqui e ali,
curto, tocar lento o, arrepio dos pêlos
elétricos, e o que vem sobre a carne
aberta... os olhos migalhas de amor,

Quem sabe eu curto o tremor

Sob mim você algo tão novo.



E.E. Cummings
Tradução: Mario Domingues

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Consolo na Praia - Drummond











Consolo na praia
Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Do EU.......










Id, Ego e Superego.
Apolo, Dionísio e Cristo.
Água, Nuvem e Raio.
Eu, Ela e Nós.
Caldeirão. Colher de Pau. Uma Prova.
Bom Gosto.
Sumi, sumiu e sumida.
Essência.
Beijos.
Até à vista.


J.H.R.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Society - Eddie Vedder (trilha sonora de Na Natureza Selvagem)

É um mistério para mim
Nós temos uma ambição que concordamos.
Você pensa que você tem o
Que quer mais do que precisa.
Até você ter isso tudo,
Você não está livre ainda.

Sociedade, sua raça louca.
Espero que não esteja solitária sem mim.

Quando você quer mais do que possui.
Você pensa que precisa.
E quando você pensa
Mais do que você quer.
Seus pensamentos
Começam a sangrar.
Acho que preciso
Encontrar um lugar maior
Pois quando você tem
Mais do que imagina,
Precisa de mais espaço.

Sociedade, sua raça louca.
Espero que não esteja solitária sem mim.
Sociedade, realmente loucos.
Espero que não esteja solitária sem mim.

Tem aqueles achando, mais ou menos, que menos é mais
Mas se menos é mais, como você mantém um placar?
Quer dizer que pra cada ponto que faz, seu nível cai
É como começar do topo
Você não pode fazer isso.

Sociedade, sua raça louca.
Espero que não esteja solitária sem mim.
Sociedade, realmente loucos.
Espero que não esteja solitária sem mim.

Sociedade, tenha piedade de mim
Espero que não fique brava se eu discordar
Sociedade, realmente louca
Espero que não esteja solitária sem mim

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Saudade


Lá estava ela:
A perfeita, estranha e exótica.
- Caldo de cana.
Tem uma alegria que mora no passado.
- diamante.
Sua fala é muda para quem pergunta, mas fala.
Alguém dispara: mentira! Cheiro e gosto de fios queimados.
- Amargo.
Sua vida é um segredo brutal. Pré-histórico.
Jabuticabas coladas no pé. Coisa mais esquisita e bonita!
- Ventre doce.
Ela não liga fatos, gestos e atitudes. Tem um estranhamento consigo mesma.
Louca? Estrangeira...
- Neon.
Convive-se com ela? Sim, por que não?
- Música.
Um temporal com trovoadas e o seu sonho. Atemporal.
Vive-se e ela.
- Árvore.
Trêmula ela dispara de vez em quando: estou!!! Estou!!!
- Alma com saudade.
J.H.R

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Uma Mulher de Branco


Ela tinha um sonho. Não, ela era o sonho. Lá, ela se vestia de branco. Se agitava muito de um lado para o outro. Tinha sede de gente, muita gente! Escutava os corações e adivinhava o SER por dentro. Ela é aquela que cura! J.H.R.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Silêncio..................


"Pergunto-te em que reino estiveste de noite. E a resposta é: estive no reino do que é livre, respirei a magna solidão do escuro e debrucei-me à beira da lua. Noite alta fazia tal silêncio. Igual ao silêncio de um objeto pousado em cima de uma mesa: silêncio asséptico de "a coisa". Também existe grande silêncio no som de uma flauta: esta desenrola lonjuras de espaços ocos de negro silêncio até o fim do tempo." (Clarice Lispector - Um Sopro de Vida (pulsações).

sábado, 31 de janeiro de 2009


O Deus olha do final do cosmos e vê todas essas bolas flutuantes coloridas e cheias de vermes incríveis e criativos... Ele senta e contempla o seu delírio e de vez em quando ele mexe com os fios que os ligam e brinca de gravidade, cometa, estrela cadente, chuva de meteoros, gira os planos e movimenta tudo, inclusive nós que também somos Ele. J.H.R

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Imprecisão


Digo "talvez" e esbarro em um "se".
Vindo da onde vier não é "certo" e nem prá "sempre".
As cores nunca são puras,
em tudo há misturas e que delas faço parte e participo.
Por favor, misture-se comigo e "estaremos" por enquanto.......
J.H.R

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O poder plástico dessa música......

As Vitrines
Chico Buarque


Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão-
Olha pra mim-
Não faz assim-
Não vai lá não
Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir
Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar
Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Dr. Jivago


"Lara caminhou ao lado dos trilhos, seguindo uma trilha gasta pelos peregrinos, e depois entrou nos campos. Ali parou e, fechando os olhos, respirou fundo o ar perfumado pelas flores da vastidão em torno dela. Aquilo era mais querido para ela do que seus parentes, melhor que um amante, mais sábio que um livro. Por um instante, redescobriu o objetivo de sua vida. Estava aqui na terra para captar o sentido desse encantamento selvagem e chamar cada coisa por seu nome certo, ou, se não fosse capaz disso, dar à luz, por amor à vida, sucessores que o fariam em seu lugar.." (Dr. Jivago - Boris Pasternak)

domingo, 25 de janeiro de 2009

Agora é a vez da Clarice (Pensamento)...


"...Meu pensamento, com a enunciação das palavras mentalmente brotando, sem depois eu falar ou escrever - esse meu pensamento de palavras é precedido por uma instantânea visão, sem palavras, do pensamento - palavra que se seguirá, quase imediatamente - diferença espacial de menos de um milímetro. Antes de pensar, pois, eu já pensei. Suponho que o compositor de uma sinfonia tem somente o pensamento antes do pensamento, o que se vê nessa rapidíssima idéia muda é pouco mais que uma atmosfera? Não. Na verdade é uma atmosfera que, colorida já com o símbolo, me faz sentir o ar da atmosfera de onde vem tudo. O pré-pensamento é em preto e branco. O pensamento com palavras tem cores outras. O pré-pensamento é o pré-instante. O pré-pensamento é o passado imediato do instante. Pensar é a concretização, materialização do que se pré-pensou. Na verdade o pré-pensar é o que nos guia, pois está intimamente ligado à minha muda inconsciência. O pré-pensar não é racional. É quase virgem." (Um sopro de vida - pulsações - Clarice Lispector)

sábado, 24 de janeiro de 2009

Pensar no Pensar - Nietzsche




“O pensamento...emerge em mim- de onde? Por meio de que? Não sei. Ele vem, independentemente de minha vontade costumeiramente envolto e ensombrecido por uma multidão de sentimentos, desejos, aversões, também de outros pensamentos... Nós o extraímos de tal multidão, limpamos, colocamo-lo sobre seus pés... quem faz isso tudo- não sei, e sou aqui, seguramente mais espectador do que causa desse processo... Que em todo pensar parece tomar parte uma multiplicidade de pessoas-: isso não é, de
maneira alguma, fácil de observar, somos fundamentalmente mais fortes no inverso, ou seja, ao pensar, não pensar no pensar. A origem do pensamento permanece oculta; é grande a probabilidade de que ele é apenas sintoma de um estado muito mais abrangente;que justamente ele chega e nenhum outro,
que ele chega justamente com essa maior ou menor clareza, por vezes seguro
e imperioso, por vezes fraco e carente de apoio...exprime-se em sinais, em
tudo isso, alguma coisa de nosso estado global ”(F. Nietzsche - Fragmento póstumo; GA
XIV,40s.Junho-julho de 1885 ,n. 38[1]; KGW VII3,p. 323 s , apud Muller-
Lauter, op.cit., p. 150).

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


De longe te miro um olhar,

Não é para te ter,

Não é para te tomar,

É para me misturar e ser contigo.....

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A Viagem - Perto do Coração Selvagem (Clarice Lispector)


A Viagem

“......... E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente seguramente inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro! Não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante: sempre fundido, porque então viverei, só então viverei maior do que na infância, serei brutal e malfeita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.”

Juntos..............


Tenha sempre alguém para voar junto.....

sábado, 10 de janeiro de 2009

Sem Teto

Na Natureza Selvagem - Trilha Sonora Eddie Vedder

No Ceiling

Vem a manhã
Quando eu posso sentir
Que não há nada a ser ocultado
Me movendo em uma cena surreal
Não, meu coração nunca, nunca estará longe daqui
Certo como estou respirando
Certo como estou triste
Manterei essa sabedoria na minha carne
Saio daqui acreditando em mais do que antes
E há uma razão pela qual, uma razão pela qual estarei de volta
Enquanto caminho o hemisfério
Tenho vontade de subir e desaparecer
Já fui ferido, já fui curado
E para descarregar já fui, já fui autorizado
Certo como estou respirando
Certo como estou triste
Manterei essa sabedoria na minha carne
Saio daqui acreditando em mais do que antes
Esse amor não tem teto

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O Vento Esther................


A Esther é um vento. Um vento bom e tudo renova por aqui.


Agora ela deixou de ser vento e virou um evento!


Bjs para você!!!


Beto

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

















O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) considerava o livro Além do bem e do mal o seu mais importante e abrangente trabalho. Nesta obra, publicada em 1886, é possível encontrar praticamente todos os temas de sua filosofia, tais como o perspectivismo, a crítica da moralidade e a psicologia da religião. O leitor percebe em Nietzsche o desejo de uma Europa unida para enfrentar o nacionalismo, além de algumas referências às artes e opiniões sobre personalidades e caracterizações de diferentes povos.