sábado, 28 de fevereiro de 2009

Homem-Pássaro (Dedicatória da amiga Vania Amadeu)


(Este poema é para meu pai e para meu amigo Beto. Por amarem tanto os pássaros.)


Ele não só voa como os pássaros,
Voa com eles, observa seus passos,
Foi ele quem ensinou o papagaio a falar e a comer na mão,
Foi quem pintou as cores exóticas das penas do pavão,
Ajudou Jão-de-barro a planejar e a construir sua casa,
Ensinou os patos a voarem, a abrirem as asas.
Mostrou a aerodinâmica da "V" formação.
Ele amo os pássaros de coração,
Ele sonha o sonho de Dédalus,
Pega carona com Pégasus,
Pensa que é Santos Dumont,
Sejam cada vez mais longas as asas de sua imaginação...

Vania Amadeu.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Pária e Vales


Nunca fui um burguês do partido.
Nunca chamei ninguém de camarada ou companheiro.
Os clubes? Os grêmios? As associações?
Nas planícies inodoras nunca me deparei com um feromônio reconhecido.
Não achei os rebanhos, as alcatéias, as varas e as colméias.
Sou um pária de mim mesmo. Me restam ainda os vales com ecos, onde posso, em desespero, dar um grito de um pedido que eu nunca soube formular.


J.H.R.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Núpcias - Albert Camus


"Penso agora em flores, sorrisos, desejo de mulher, e compreendo que todo o meu horror de morrer está contido em meu ciúme de vida. Sinto ciúme daqueles que virão e para os quais as flores e o desejo de mulher terão todo o seu sentido de carne e de sangue. Sou invejoso porque amo demais a vida para não ser egoísta... Quero suportar minha lucidez até o fim e contemplar minha morte com toda a exuberância de meu ciúme e de meu horror."

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

(Lou Andreas-Salomé para Nietzsche)






Oração à Vida
Tão certo quanto o amigo ama o amigo,
Também te amo, vida-enigma
Mesmo que em ti tenha exultado ou chorado,
mesmo que me tenhas dado prazer ou dor.

Eu te amo junto com teus pesares,
E mesmo que me devas destruir,
Desprender-me-ei de teus braços
Como o amigo se desprende do peito amigo.


Com toda força te abraço!
Deixa tuas chamas me inflamarem,
Deixa-me ainda no ardor da luta
Sondar mais fundo teu enigma.


Ser! Pensar milênios!
Fecha-me em teus braços:
Se já não tens felicidade a me dar
Vamos, ainda tens tua dor.

O Tigre de Veludo



Curto meu corpo quando junto ao teu
corpo. Isso sim é algo de novo,
músculos melhores, mais nervos,
curto teu corpo, curto o que ele faz,
curto teus cosmos, e sentir a espinha,
curto teu corpo até o osso, tremida-
firme-lisa mente e que eu
de novo de novo e de novo
beijarei. Curto beijar teu aqui e ali,
curto, tocar lento o, arrepio dos pêlos
elétricos, e o que vem sobre a carne
aberta... os olhos migalhas de amor,

Quem sabe eu curto o tremor

Sob mim você algo tão novo.



E.E. Cummings
Tradução: Mario Domingues

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Consolo na Praia - Drummond











Consolo na praia
Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Do EU.......










Id, Ego e Superego.
Apolo, Dionísio e Cristo.
Água, Nuvem e Raio.
Eu, Ela e Nós.
Caldeirão. Colher de Pau. Uma Prova.
Bom Gosto.
Sumi, sumiu e sumida.
Essência.
Beijos.
Até à vista.


J.H.R.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Society - Eddie Vedder (trilha sonora de Na Natureza Selvagem)

É um mistério para mim
Nós temos uma ambição que concordamos.
Você pensa que você tem o
Que quer mais do que precisa.
Até você ter isso tudo,
Você não está livre ainda.

Sociedade, sua raça louca.
Espero que não esteja solitária sem mim.

Quando você quer mais do que possui.
Você pensa que precisa.
E quando você pensa
Mais do que você quer.
Seus pensamentos
Começam a sangrar.
Acho que preciso
Encontrar um lugar maior
Pois quando você tem
Mais do que imagina,
Precisa de mais espaço.

Sociedade, sua raça louca.
Espero que não esteja solitária sem mim.
Sociedade, realmente loucos.
Espero que não esteja solitária sem mim.

Tem aqueles achando, mais ou menos, que menos é mais
Mas se menos é mais, como você mantém um placar?
Quer dizer que pra cada ponto que faz, seu nível cai
É como começar do topo
Você não pode fazer isso.

Sociedade, sua raça louca.
Espero que não esteja solitária sem mim.
Sociedade, realmente loucos.
Espero que não esteja solitária sem mim.

Sociedade, tenha piedade de mim
Espero que não fique brava se eu discordar
Sociedade, realmente louca
Espero que não esteja solitária sem mim

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Saudade


Lá estava ela:
A perfeita, estranha e exótica.
- Caldo de cana.
Tem uma alegria que mora no passado.
- diamante.
Sua fala é muda para quem pergunta, mas fala.
Alguém dispara: mentira! Cheiro e gosto de fios queimados.
- Amargo.
Sua vida é um segredo brutal. Pré-histórico.
Jabuticabas coladas no pé. Coisa mais esquisita e bonita!
- Ventre doce.
Ela não liga fatos, gestos e atitudes. Tem um estranhamento consigo mesma.
Louca? Estrangeira...
- Neon.
Convive-se com ela? Sim, por que não?
- Música.
Um temporal com trovoadas e o seu sonho. Atemporal.
Vive-se e ela.
- Árvore.
Trêmula ela dispara de vez em quando: estou!!! Estou!!!
- Alma com saudade.
J.H.R

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Uma Mulher de Branco


Ela tinha um sonho. Não, ela era o sonho. Lá, ela se vestia de branco. Se agitava muito de um lado para o outro. Tinha sede de gente, muita gente! Escutava os corações e adivinhava o SER por dentro. Ela é aquela que cura! J.H.R.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Silêncio..................


"Pergunto-te em que reino estiveste de noite. E a resposta é: estive no reino do que é livre, respirei a magna solidão do escuro e debrucei-me à beira da lua. Noite alta fazia tal silêncio. Igual ao silêncio de um objeto pousado em cima de uma mesa: silêncio asséptico de "a coisa". Também existe grande silêncio no som de uma flauta: esta desenrola lonjuras de espaços ocos de negro silêncio até o fim do tempo." (Clarice Lispector - Um Sopro de Vida (pulsações).