domingo, 31 de outubro de 2010

"Não quero nunca renunciar à liberdade deliciosa de me enganar." Che Guevara

sábado, 30 de outubro de 2010

Quase Intuição...

Sábado de manhã...

Um pouco de ressaca. Música bem baixinho. Casa escura, só de luz, das outras coisas, não.

Lembrei-me que normalmente era o dia de resolver aquelas pequenas coisas que lotam as ruas e o comércio. Afazeres de mercado, sapataria, oficina de carros... quando estamos lá é que pensamos o quanto a vida é trivial e também boa, embora um pouco sem sentido.

Desisti e não fui. Outro dia resolvo. Achei melhor beber água e um analgésico. Abri a janela e coincidentemente estava tocando It is the evening of the day. I sit and watch the children play. Smiling faces I can see, But not for me.” Isso me remeteu à conversa de ontem. Um amontoado de apaixonados falando de Heráclito e Nietzsche. De relance pude ver aquela boca com um batom suave... foi ontem... como sempre acontece pensamos sem querer: não se pode beijar duas vezes a boca de um mesmo corpo...

Sabe? Vou descer e dar uma corrida. Fiz um aquecimento em meio aos cartazes e gritos de “votem em...” Deu um desgosto. Embora as crianças não sorrissem para mim, o dia vinha ensolarado dentro de mim. Como é difícil e desagradável delegar poder. Por que vim assim desse jeito? Vou perguntar para a minha mãe. Nos seus 83 anos e sendo mãe, tenho certeza que ela sabe tudo.

Já são 16 horas. Estou tomando um café com broa de milho. Coisas lá das Minas Gerais. Fiz a pergunta para minha mãe. A resposta foi tão simples, assustadora e metafórica: “você parece uma vela. Derretendo e sozinha. Logo apaga.” Tudo bem. Vou confessar! Engasguei com o café e a broa. Alguém gritou: “São Brás!!!!” Só este santo mesmo para me acudir!

Percebeu porque os homens têm medo mulher? Estou exagerando? Está bem – é só um receiosinho...

Já anoiteceu e não quero beber e também não quero o burburinho da rua. Já sei. Vou rezar. Que religião e igreja vou escolher hoje. Hummmm ... tem uma igreja Batista lá pelo número 900. Da última vez tinha um baixista lá de primeira, junto com um órgão bem melancólico. Aquilo era quase um blues.

Acertei! Salvei-me do dia. Boa noite. Amém.


J.H.R

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Visceral

Sabe-se lá o que é acordar com um “extra! Extra! Extra!: Vive-se!?" Não sei, vivi. O jornaleiro estava aqui, dentro, morador, imperceptível. Anunciava quase uma ordem, ao ponto dos olhos se abrirem, amargamente, diante de uma cena infinitamente vivida: o quarto, a cama, os quadros, os livros e os santos na cabeceira.

Era preciso movimentar. Apesar de tudo repetir: o forte! Soava vazio e impróprio. Mas não deixava de ser um preenchimento bloqueador de tantos pensamentos e recordações que insistiam em voltar repentinamente, fazendo do viver aquele amontoado de cenas de um passado inexpressivo, com dores e fugas.

Mais uma vez acendia a chama, água e açúcar no bule, pois sem café e um cigarro a vida não continua. Acendia também um incenso, pedindo que todo aquele pauzinho perfumado trouxesse tudo que é abençoado para perto, sensível, sentido. Daí, como de costume, coloquei música para falar comigo. Vinha o meu xará gritando por mato mato e mato, naquele seu Amor de Índio. Foi preciso correr para pular de música. Algo ancestral me persegue, solicitando o nu, água, floresta e aquele cheiro forte de bicho... Ai!! aquele escritório, computadores e “bom-dia!”...

Na hora do batismo do banho, rezei. Deus, dê-me a simplicidade da vida que se vive apenas. Do corpo envelhecendo naturalmente, para que o próximo venha, venha e venha.. Nada de valores, pensões, bolsas e o falar absurdo.

Tomei o elevador e encontrei com Bia. Naqueles seus dois anos de idade. Um falar puro e me olhando nos olhos, como a me lembrar do jornaleiro. Ela me disse: “estou feia hoje porque estou sem brinco.” Era preciso estar elegante para carregar os seus baldinhos e pazinhas para a areia. Ah o futuro! Futuro! Pensou a minha cabeça velha e ranzinza, e levou bronca. Nem sei quem foi que brigou e quem levou bronca. Insano.

Pena o trabalho ser tão perto. Vinha aquele som de reggea gostoso, com aquela marcação de guitarra, uma voz convidando “vamos fugir, para outro lugar, baby, vamos fugir...” Admiravelmente, desviei do caminho e deixei algo me dirigir. A mente sem dono, com todos personagens, fotos, amores, livros, romances, tudo mediado e imediato num devir. “Conheça a ti mesmo”; “torna-te o que tu és”. Esses filósofos em meio a uma enxaqueca!

O telefone toca. Sim, estou atrasado. Já vou! Toca novamente. “Lembre-se, hoje é dia. É preciso comprar isso e aquilo.” Em breve vão inventar implante de celular. É muito preciso, justo, necessário. Enfim, cheguei ao trabalho. Dei um “oi” com os olhos e comecei a ganhar a fração daquele dia que morei, dormi e comi. Aos poucos o jornaleiro foi encerrando a sua edição. Tive uma notícia extra. Hoje faríamos hora-extra.

J.H.R

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

DUPLO MORTAL

DUPLO MORTAL

Vera Americano


Postar-se
no desvão
entre dois argumentos,
por dois segundos.


Respirar
economicamente
entre duas palavras,
duas ondas
muito crespas.


Decidir
em sânscrita ilusão:
viver
ou deixar para mais tarde.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Venha! Estou bem aqui! Eu te abrigo no meu desamparo!

J.H.R