sábado, 12 de março de 2011

Carta virtual para a amiga Nancy e a sua resposta...

Brasília/São Paulo ou no meio do caminho. 12 de março de 2011.

Minha querida amiga Nancy,

Por mais uma vez estou em uma cena real provocada pelo sono. Caminho por ruas escuras em busca de um local onde seria ministrada uma palestra. Tão importante que somente uma pessoa poderia falar e somente uma a ouvir. Ao entrar por aquele galpão amplamente iluminado, de luz desconhecida, me deparo contigo em um púlpito. Abaixo apenas uma cadeira, a qual me sento. Ao sentar-me me vem à mente a palavra: réu!

Sem me cumprimentar, você inicia o discurso. Breve, porém direto. Acusa-me. Obriga-me. Condena-me a proferir uma palavra. Tal palavra deveria ser a tradução perfeita para um mundo sem o mal, vilão, dor, dúvida, doença, descrença, medo, angústia, loucura, ódio, pecado; com a perpetuação de uma felicidade sem altos e nem baixos por uma infinidade que a mente sequer supõe. Respirei fundo e pronunciei. Tal foi o impacto que você desmaiou. Para minha surpresa, um corpo etéreo levitou dentro do seu corpo original, segurou em minha mão e disse: criança.

Estou aqui por horas e horas fazendo o possível e o impossível para lembrar-me a palavra que foi dita por mim, mas acredito que só você poderá desvendá-la.

Assim, nesse minuto que estou em vigília, te convido para um novo encontro. Sim! Lá! Você bem sabe. Use a capa que quiser usar, pois sei que virá novamente de dentro de si. Estarei lá para lhe dar a mão. Continuo. Réu!

Fraternalmente, do seu amigo JH.

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Lugares e não lugares ou no meio do caminho. 12 de março de 2011.

Querido amigo, poetapensador JH

Teu sonho é a reinvenção de todas as tuas películas, do que tece tua alma.

Existe a leitura além do compreender-te nesse cenário, existe a palavra libertária.

A palavra que esgota o ‘’demasiadamente humano’’ que ocupa um corpo.

Porque o verbo te consome muito mais que o tempo da ação verbal, muito mais que todas as propostas da vida, o verbo te devora, mas a palavra é intrínseca.

Embora não caiba no pensamento, a palavra é tangível.

Essa fustigante busca ao ‘’inominável’’ já me rendeu noites de insônia...

Essa palavra que abre todas as outras palavras e revela-te um caminhar mais fulgente encerrando tuas vigílias, escapa-me a todo instante pelos poros por onde respira-se a poesia contida nos teus aforismos.

E bem sabes que logo ali na frente sou eu quem permaneço imóvel e réu.

Assim sendo, toda sentença que eu proferir, vã e filosoficamente, torna-se inópia, mísera e pálida diante dos teus anseios...

Posso por hora, apenas recomendar-te cautela nessa cobiça...

Essa palavra tão definitiva não pode ser inocentada pela beleza plástica, nem por conduzir-nos a uma plácida encenação de paz.

Essa palavra inteira que supre toda a felicidade, massacra o mistério que nos sustenta.

Ora, caro amigo foi da tua boca que ouvi tantas vezes que :

‘’O mistério só existe porque não cabe na individualidade’’.

Assim, compartilho dessa tua angústia enviando-te um placebo, um fio de letras miúdas para que possa montar em mosaicos essa tua voraz capacidade de sentir muito e compreender pouco...

Na cumplicidade de nossa amizade,

Ntakeshi.


4 comentários:

  1. Meu Deus, que lindo! A minha reverência à sensibilidade de vocês. Quanto à palavra dita no sonho, diante de tanta beleza, arrisco a dizer que só pode ser: amor. Pois foi com amor que foram redigidas essas duas cartas.

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  2. Pat, lembra quando disse que a Nancy era uma escritora maravilhosa? Está vendo?

    Adorei o seu comentário. Obrigado.

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  3. ahh..imagina...quem acende a pira_ção sempre é você!

    errata necessária e urgente:
    Teu sonho é a reinvenção de todas as tuas películas

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