terça-feira, 22 de março de 2011

Na Infância...

Esse moleque aí na foto, no centro, sem dentes, é um tal José Humberto.

Nessa época entrávamos na escola aos sete anos. Muitas vezes sem ter passado por qualquer outra experiência parecida. Aos sete anos não sabíamos ler e nem escrever. Parece incrível pensar isso nos dias de hoje. Éramos tão inocentes e infantis que uma criança atualmente poderia nos parecer um adulto. Tínhamos muito pouco acesso à informação, a TV praticamente ficava o dia todo sem programas, quando muito um punhado de enlatados que hoje as crianças jamais perderiam tempo assistindo. À noite, nossos pais não nos deixavam à frente da TV. Invariavelmente às nove ou antes já estávamos dormindo.

Pensar e falar em coisas como sexo, violência, pedofilia e outras parece-me absurdo pensar nisso agora.

Pois bem, lá pelo ano em que essa foto foi tirada vivíamos em Brasília algumas epidemias, com várias campanhas de vacinação em massa. Afinal, em Brasília só tínhamos canteiros de obra e muita poeira, andarilhos, ciganos e trabalhadores da construção civil.

Então, certo dia, nessa mesma sala de aula da foto, estamos lá calmos e tranquilos com a nossa professorinha. Bateram à porta. Ao ser aberta, vem um recado da diretora da escola. Façam fila com as crianças pois elas vão tomar vacina.

Virei para o meu amigo e disse:

- Será que vacina é uma merenda boa?

- Sei não, nunca tomei, disse-me ele.

Fomos para a fila. Isso tudo mundo sabe. Os menores na frente e os maiores no final. Fila de meninos e meninas. Cada turma que se aprontava primeiro ia ficando na frente e as demais no final. Isso ocupou quase o pátio todo da escola.

Algo me deixou um pouco apreensivo. Porque a fila estava indo em direção à sala da diretora? Era a direção oposta à cantina. Comentei com o meu amigo e ele também estranhou.

Esse tal amigo, chamado Marco Aurélio, era o capeta em pessoa. Hoje em dia dariam o seguinte diagnóstico para ele: precoce, déficit de atenção, hiperativo, e não sei lá mais o quê.

O fato é que a fila andava muito lentamente, o que não era comum nos dias de merenda especial. As merendas comuns eram entregues na própria sala de aula. Fazíamos fila somente em casos raros. Devia ser algum método de socialização dos capetinhas.

Quando começamos a ficar bem próximos à sala da diretora, o dito Marco Aurélio deu um jeito de sair de fininho da fila e espiar o que ocorria na sala. Daí ouvimos um grito: "socorro! Socorro! Isso não é merenda coisa nenhuma!!!! Tem um cara lá que dá um tiro no braço e bate com o martelo na cabeça da gente!!!" Isso porque ele havia visto uma menina desmaiando ao tomar a vacina. Aquilo foi uma confusão dos infernos. A molecada abriu o berreiro, meninas desmaiando ecriança correndo para todos os lados. Fui encontrado entalado em um basculante do banheiro.

No outro dia, todo mundo meio amuado, febril e com o braço inchado.

Aquele mundo era tão pequeno, mas como éramos sinceros!!!

J.H.R

5 comentários:

  1. e sempre existe a bendita professorinha!

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  2. Que benção essa infância! Pena que as melhores fotos nunca são tiradas: adoraria ver você pequenininho entalado no basculante... beijo!

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  3. s.rs.rs.... postei esse texto para deixar registrado que alguém dessa época faleceu essa semana. Queria deixar algo de feliz... Obrigado pelos comentários. Abraços!

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  4. kkkk... Adorei esse texto!!! Eu me lembro bem quando todas as crianças ficaram apavoradas kkkk... no outro dia a gente não podia nem levantar o braço.
    Não tínhamos a tecnologia de hoje mais mesmo assim a gente era feliz, sem net, celular, quero ver as nossas crianças viver sem tudo isso hoje, bem hoje em dia eu não sobreviveria também kkkk....

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