segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mono Logos



Um sonho acabando e a sensação de uma música tocando. A música era ruim. Toda vez que a faxineira vai ela mexe no rádio-relógio e coloca naquelas rádios terríveis. Bati forte no danado, que silenciou. Queria ter silenciado também a mente. Não dá, o cérebro manda e ela obedece. Dias desses estava lendo sobre isso. A mente é uma abstração do cérebro... mas isso é outro papo...

Será porque nos perdemos na cama em certas manhãs? Perdemos mesmo os sentidos ou eles não se encontram. Aquele diálogo monólogo persistente. Que farei? Aonde vou? Quem me espera? Tenho fome? Quero um cigarro em jejum! Sim, quero, mas fico tonto... Onde ela está agora? Será que pensou em mim. Sou eu quem põe a mesa e faço o café. Que merda! Sim, uma prece. Falar com o EU etéreo que me entende. E começo: "Deus... aqui estou novamente..." e percebo que não estou mais. Minha cabeça já está girando o mundo, nas lembranças, nos desejos, nos afetos... às vezes sonho ser um deserói de Dostoievski. Sei que sinto isso, mas é um desejo burro de pequeno burguês.

Um pássaro canta lá fora, no seu dialeto que quase entendo. Abro as janelas e digo "olá" para o sabiá. Ele sabe e eu também. Às vezes reclamo com ele quando insiste na estrofe "trintaeoitotrintaeoito". O mundo todo está delirante, sol a pique, todo mundo mastigando, alguns fazendo amor. É o caso do sabiá e as suas cantadas infinitas, anunciando que em breve vem chuva e primavera. Ando mal de cantadas. Na verdade nunca cantei. Sou apenas a pauta. Sou feliz assim? Não faço idéia...

Quero um ensaio no chuveiro. É lá que me preparo para certas falas, atos e de como farei desenhado esse meu mundo aparente. Sou sim um artista! O problema é que o cenário nunca se realiza. Já fiz de tudo e sempre é diferente. Farei isso na hora tal. Tomo um café e desligo, mas se insistir finjo ser despretensioso. Dá tudo errado! Sempre deu. Acabo sendo eu mesmo e isso desanda de vez... (você está rindo????) eu também! Ainda é um remédio tradicional e caseiro. Vem de dentro, não se paga nada.

Novamente encontrei a moça que limpa o elevador. Ela sempre vem com aquele "meu fi, o senhor parou de falar sozinho?" Ainda não, dona. Nem sou eu quem fala, é só a boca. Ela emenda: "isso é coisa ruim, devia tratar disso. Arrumar uma mulher e casar de vez". Sempre conclui essa frase com uma gargalhada que o elevador balança... Daí eu penso nela novamente. Vivo me torturando com ela. Aquele cabelo longo, hoje deve estar com aquela bata azul, batom rosa claro e aqueles brincos gigantes que eu adoro... Tá bom! Já sei, a coisa anda ruim e estou meio fodido com isso. E daí!!! Todo mundo tem o seu querer um pouco de dor... eu não minto. Também tenho! Afinal, é o meu "mono logos". Quem é que vai adivinhar? A vida privada burguesa é tão boa!!! A gente pode com todas as porcarias humanas. Tudo começa em querer ser herói... é uma graça mesmo! Que ando pensando! A dona deve ter razão. Isso deve ser coisa ruim.

O cara da vaga ao lado da minha acaba de dar um foda-se para alguém. Daí eu construo a história na minha cabeça. Eu sei... sou um desocupado, mas tenho mania de história e imagens, também penso na trilha sonora. Se ligo o rádio e está naquelas merdas de estações que só tocam notícias, penso nos Titãs com aquela sonora: "Porrada!! Porrada!" Não sei por que penso nisso. Sou uma merdinha burguesa. Peraí!!!! Merdinha, não! Sou até legal. Todo dia essa guerra no corpo. Quem é quem? Aqui nunca rola um equilíbrio permanente. Mas como todo bom sujeito, o mocinho vence. Que vergonha!!!! Hã??? Não enche, segura a onda aí!!!!!! (esse EU que só fica no "não" é um porco maldito que não sai da lama). Retomo a caneta dele...

Dei play e vou de Wonderful Tonight. Adoro me lembrar dos beijos. Acho que é o maior presente de todos. Ninguém ganhou um Nobel por isso. O sujeito que inventou o beijo era um genial homem da idade das pedras. Tenho certeza que esse homo sapiens já sabia falar. Beijo é algo elaborado demais e é preciso contar a alguém. Não tem jeito. Tudo acaba em beijo, para o bem ou para o mal. Bom dia, minha linda! Beijo e desejo bom trabalho...

Amanhã, continuamos esse papo. Sinto que cresço nessa multiplicidade. Não sei aonde vou, mas é bom ir e também voltar. Um drink comigo sozinho é tão profícuo. O que? Sei lá, entende... Hermeticamente.

J.H.R