segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Pássaro Eu


Chamo-me pássaro Pablo,
ave de uma pena só,
voador na escuridão clara
e claridade confusa,
minhas asas não são vistas,
os ouvidos me retumbam
quando passo entre as árvores
ou por debaixo das tumbas
qual funesto guarda-chuva
ou como espada desnuda,
estirado como um arco
ou redondo como uma uva,
voo e voo sem saber,
ferido na noite escura,
aqueles que vão me esperar,
os que não querem meu canto,
os que me querem ver morto,
os que não sabem que chego
e não virão para vencer-me,
a sangrar-me, a retorcer-me
ou beijar minha roupa rota
pelo sibilante vento.
Por isso eu volto e vou,
voo mas não voo, mas canto:
pássaro furioso sou
da tempestade tranquila.

Pablo Neruda

3 comentários:

  1. "O homem gostaria de ser peixe ou pássaro..." Pablo Neruda

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  2. Que meu amigo pássaro voe pela vida em tempestades tranquilas e outras nem tanto. Bj

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