quarta-feira, 10 de novembro de 2010

As palavras e o sentir...

Existir é uma coisa; viver uma outra. Conviver nem se fala. Comer é assim; alimentar-se é totalmente o contrário. Ter cuidado com o que se diz não é pensar. Pensar é outra coisa. E amar? Isso é algo que os seres humanos ainda estão tateando. Gostar é muito simples. Apaixonar-se é algo doentio. Amar é quase etéreo, fugidio e consenso sobre isso é uma faixa de Gaza.

Dicionário: “Amar.[Do lat. Amare.] V. t. d. 1. Ter amor a; querer muito bem a; sentir ternura ou paixão por. 2. Ter afeição, dedicação ou devoção. 3. Sentir prazer em; apreciar muito, gostar de.” Ainda tem mais nove acepções, tudo muito próximo.

A primeira delas não serve. “Ter amor a” não diz nada. Ninguém sabe o que é. “Sentir ternura ou paixão por”. Ternura e paixão estão muito longe do amor, diriam todos. “Sentir prazer em; apreciar e gostar de” são referentes, muito provavelmente, às coisas, objetos em geral. Amor existe?

Uma colega de trabalho me dizia um dia: “o que me irrita em você é que, embora seja um homem maduro, ainda acredita em amor romântico. Hoje em dia não está na moda. Essa coisa de passar pela paixão, coração na mão, palpitando... quando se passa direto para o amor é que tudo realmente acontece e permanece”. Fiquei intrincado com isso. Todas as vezes que disse “eu te amo” ou pensei que amava, tinha todo aquele processo de susto, descontrole, saudade; portanto, isso não é amor, vai ver que é paixão. Pelo menos para ela.

Conhecido meu quem disse. Conheceu uma mulher, visitou o Nirvana, casaram. A lua não foi só de meu. Foi de flores, bombons, jantares, vinho, meu bem, amorzinho e chuchu. Devia ter mais alguns, mas ninguém fala. Aquilo tudo era uma festa. Casa nova, os móveis, um monte de supérfluos para comer, um drinque à noite e muito sexo. Desculpa. Não se faz sexo com quem ama – faz-se amor. Logo chegou um bebê. A grana encurtou, o chefe está insuportável. As sogras, nem se fala. A cunhada que está um grude, não sai lá de casa. Tudo muito corrido. Daí um dia, ele chega em casa, toma um banho e relaxa. Chega perto da esposa, dá um beijinho, um abraço, desce a mão um pouco e ouve: “nem pensar, tira a mão daí!!!”. Isso foi na segunda, terça, quarta... e virou rotina. Ahh minha mulher não me ama mais! O mundo caiu. A esposa foi num aniversário da amiga. O marido da amiga chega com um buquê de flores, um beijo aqui, mãos dadas e tudo mais. Ela se diz: “isso é que é amor!”. Nem sabe da segunda, terça... deles.

Terapia de casal. Qual a sua reclamação meu amigo? Ela não me ama mais; não transa comigo. E o seu, senhorita? A lâmpada da área de serviço queimou há pelo menos um mês. Todo dia ele diz que vai trocar. Nas festinhas, sempre fica um pouco alto. Então, se não troca lâmpada, não tem sexo. Se fica um pouco alto, não “dou” para ele.

Mas afinal. O que é o amor? Escutei na fila do banco uma mulher dizer que “amor só existe um. O de mãe para os filhos”. Lendo sobre Jesus, São Francisco de Assim, Chico Xavier e Madre Teresa de Calcutá temos uma evidência estranha, se não estou enganado. Todos eram celibatários. Então o amor ao próximo não tem qualquer relação com o amor entre homens e mulheres? Esses ícones de amor à humanidade, que eu tanto respeito, falam de coisas a serem superadas: perdoar as ofensas, banir o ciúme, evitar o rancor, à inveja e outras mais”.

Suspeito que sejam amores diferentes. Sinceramente, não sei.

Um dia, parado no semáforo, olhei para o lado e vi um carrão parado. O cara estava com uma mulher de parar o trânsito. Olhei bem e percebi que eles estavam com aquelas caras de poucos amigos. Logo pensei na segunda, terça... deles. Disso eu agora tenho certeza: não invejo casal nenhum.

Encontrei um conhecido e ele me disse: “eu e a minha esposa/mulher/namorada/amante/companheira/amiga moramos em casas separadas”. Nossa! Pareceu uma reza, mas ele fez questão de repetir. Agora sim! Estou feliz demais e ela também. Tem lá os seus problemas: orçamento, criar os filhos, compromissos sociais etc e tal. Mas o saldo tem sido positivo. Então quer dizer que estão se amando novamente? “Psiu!! Psiu!! não me fale essa palavra!”. O que houve? Nada demais. Apenas fizemos um acordo, eu a minha ........, não pronunciamos mais. Toda vez que falamos “amor ou amar” é um problema dos infernos. Agora não falamos; sentimos.

J.H.R

2 comentários:

  1. O amor é o amor.. quem fala, não sente. Quem sente, entrou no inominável.
    Olha que curioso. No fim-de-semana comecei a escrever um texto sobre alma-gêmea. Achei piegas e não postei... agora tomei coragem. Valeu!
    Beijos!

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  2. Amor... Quem melhor define, nunca o sentiu...
    Adoro ler e reler os seus textos, parentesco da alma talvez?

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